A Perseguição. - Prólogo.

- Cuidado!
O piloto sabia que iam morrer. O jato Silver Arrow de doze passageiros era sacudido de um lado para outro no céu, como se fosse um mero brinquedo, pelos fortes ventos sobre as montanhas Apalaches, no norte do estado de Nova York. O piloto e o copiloto faziam o maior esforço para manter erguido o nariz do avião, lutando contra as terríveis correntes de ar descendentes. Era um magnífico avião, muito bem projetado, construído com extremo cuidado. Durante os últimos minutos, no entanto, os motores haviam começado a falhar.
Um dos dois passageiros no luxuoso compartimento posterior foi até a carlinga e disse:
- Há alguma coisa errada com a alimentação de combustível. Os motores não estão com potência suficiente.
Em circunstâncias normais, o piloto teria ordenado ao passageiro que voltasse para seu lugar. Mas aquelas não eram circunstâncias normais. O passageiro projetara e construíra aquele avião. Era o Sr. Eike Batista, fundador e presidente do conselho de administração de um dos maiores conglomerados do mundo.
- Estamos perdendo toda a nossa potência - explicou o piloto.
Eles sabiam o que isso significava. A visibilidade era zero, e ao redor os picos mortíferos e invisíveis das montanhas os esperavam. Sem potência suficiente, o avião não teria como subir o bastante para se livrar do perigo.
E o avião já começava a perder altitude. Eike Batista estudou os instrumentos por um momento e depois voltou ao compartimento de passageiros, ao encontro da esposa, Diana. Não havia medo no rosto de Diana, apenas uma expressão de paz e aceitação. Ele pegou a mãe da esposa, que lhe sorriu, os olhos transbordando de amor.
Eike Batista estava pronto para se encontrar com a morte. Levara uma vida movimentada e satisfatória, realizara mais do que a maioria dos homens. Partindo do nada, criara as Industrias Batista, um conglomerado de que qualquer homem podia se orgulhar. Tinha milhares de empregados, trabalhando em uma dúzia de fábricas espalhadas pelo mundo, era bem considerado e respeitado.
Sua mente retornou ao início, quando era muito jovem e acabara de sair da universidade. Possuía um talento natural para a eletrônica. Recebera muitas ofertas de emprego, mas conhecera e se apaixonara por Diana, que o encorajara a criar sua própria empresa. Durante os primeiros cinco anos, trabalhara dia e noite, tentando ganhar dinheiro suficiente para sustentar Diana e a filha pequena, Carolina. Fora um caminho difícil o que Eike Batista escolhera, mas ele era ambicioso e talentoso, e nada podia detê-lo. Pouco a pouco, sua empresa prosperara. Adquirira outras empresas, criando as Industrias Batista, um gigantesco conglomerado que operava no mundo inteiro, fabricando aviões e computadores, câmeras e rádios, aparelhos de televisão e uma centena de outros produtos...
Os pensamentos foram interrompidos por uma repentina trovoada, acompanhando o clarão de um raio, que iluminou o céu, como a explosão de um enorme rojão. Por um instante, as pessoas no avião puderam divisar o que havia lá fora. Estavam cercadas pelos perigosos picos das montanhas. Depois, o clarão se desvaneceu e voltaram a mergulhar na escuridão. Eike Batista apertou com mais força a mão da esposa. Em poucos momentos, suas vidas chegariam ao fim; mas contavam com sua amada filha, Carolina, para continuar. Carolina herdaria o império Batista e saberia conduzi-lo com extrema competência.
Outro raio riscou o céu e eles contemplaram uma cena do inferno: picos nevados, nuvens escuras turbilhonando e bem á frente a encosta de uma montanha que parecia se projetar na direção do avião. Segundos depois, o mundo pareceu explodir em mil e um fragmentos em chamas.
E, depois, houve um profundo silêncio, rompido apenas pelo uivo do vento, soprando pela paisagem interminável e solitária.

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